JARDIM DE MEMÓRIAS




O canto, ela trazia sempre quando voltava da missa.
Voltava leve e contava o que o padre tinha ensinado.
Muita fé, ela mostrava em suas palavras e até exagero.
Thundercats, era esperado na tv e no pedestal das memórias está o almoço de domingo da D. Zoê.
Cantava descascando as batatas,
enquanto a galinha ensopada já soltava aroma
e o chiado da panela competia com o regougo das barrigas famintas.
Água fervente pro talharim, (preferido do pai)
e ela aproveitava a passada de alguém pela cozinha
e pedia pra buscar uns ramos de salsa e cebolinha no canteiro.
Canteiros de temperos verdes, horta, especialidade do Seu Leomar.
A janela basculante deixava toda luz dominical espalhada em meio aos vapores das panelas.
A memória é fascinante, sempre digo isso.
Temos o poder de saborear os bons momentos vividos quantas vezes quisermos.
Acionamos o banco de dados disponível e compartilhamos.
Na troca com os pares que viveram conosco,
percebemos que cada um constrói suas caixas especiais de memória
e nelas guarda seus tesouros particulares.
A alegria guardada na memória,
serve para sermos benevolentes quanto aos erros cometidos,
pelos outros e por nós mesmos.
Alguns momentos guardados na memória, são remédios e nos fazem perdoar pessoas.
Percorro minhas memórias como quem percorre um jardim,
obviamente enxergo também o descaso em alguns lugares
e é até fácil perceber que a falta de cuidado,
deixa o mato competir com a beleza as flores.
Como tudo isso está no passado e só me resta contemplar,
eu insisto em procurar as flores, os cheiros, os timbres, as risadas e os sabores.
Para muitos que hoje vivem seus momentos singelos de convivência,
as pequenas pétalas dos minutos até se deixam levar com a brisa,
se transformando em horas, formam as rosas diárias no canteiro da vida de cada um.
Nosso jardim de memórias!
Lembro quando criança ao querer entender o amor!
Lembro que querer saber como era amar!
Lembro de despetalar uma flor e sempre perguntar:
Ele me ama?
Tirava uma pétala.
Ele não me ama?
Tirava mais uma.
Perguntando para a flor!
Querendo saber o tempo futuro.
Querendo saber quem iria me amar!
A flor despetalada guardava a resposta sempre na última pétala.
Como o final de um livro, o final de um filme, o final de uma vida!
A flor se correspondia com o tempo!
Hoje penso no jardim dominical em volta da mesa.
Quanto perfume tem essa comida!
Está na minha mente e é como se estivesse diante de meus olhos.
Me vejo com 15, vejo meus cabelos loiros e os do pai ainda não estavam tão brancos.
Vejo a mãe que sabia sorrir e colocava no centro da mesa, como se fosse o centro do canteiro:
Batatas com maionese, galinha ensopada, o macarrão com o molho da galinha
e por cima do macarrão uma farofa que jamais comi igual.
Nem sei porque eu nunca tentei repetir esse cardápio memorável!
Ah!To sentindo até o cheiro dessa comida da mãe!
E o molho da galinha por cima da maionese realmente é o meu palácio floral!
Jamais esquecerei!
Tente você!
Construa seus pedestais, caixas, canteiros e jardins de memórias!
Isso será hoje, um paradoxo medicinal!



Comentários

  1. Beleza de palavras que nos remete a momentos impar
    Da saudade e sinto o cheiro dessa saudade

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  2. Maravilha fazer brotar alegria através das palavras!

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  3. Chorei mana.
    Tenho poucas lembranças dessa época.
    Mas lendo..
    Veio algumas lembranças sim.
    E era mesmo assim quê acontecia.
    Obrigada pelo momento.
    Amo vc maninha.

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