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Mostrando postagens de fevereiro, 2020
Liberdade Eu vejo uma cena e a descrevo. Eu vejo um homem caminhando e eu faço uma análise. Analiso conforme as informações que obtenho visualmente. Eis o que eu vejo: Vejo um homem numa atividade diária. Ele está tranquilo, sorri e caminha com serenidade. Ele saúda com simpatia as pessoas que encontra. Sua atividade cotidiana o faz pensar que está na mais nobre atitude. Sua tranquilidade demonstra todo o controle que ele exerce ao prosseguir em seu desempenho. Ele está certo de que está totalmente certo. Coitadinho. Ele não consegue sequer imaginar o mal que está praticando. A cena que descrevo é um homem que leva um pássaro para passear dentro de uma gaiola. Em seu entendimento medieval e ultrapassado ele pensa: Eu amo essa ave! Eu cuido dela. Eu descasco laranjas e dou para ela. Também dou bananas cortadas para ela. Procuro variações de grãos para que esteja bem nutrida. Cubro a gaiola e a protejo para que não fique agitada. O sol faz muito bem a ela, então a
Apenas fale parte III A confessora majestosa nada disse. O desferrar com brisa perfumada ao redor, seu cheiro de vida, dava remissão na floresta com silêncio, sem dor, nem som e nenhum conselho sequer. Embrenhou-se a bela Chloe de volta e seus cabelos acobreados, foram agarrados a finos e quebradiços galhos. Parou para soltar os gravetos dos cabelos e olhava para cima sentindo-se tão criança. Surpreendeu-se com seus saudosos e sonoros risinhos infantis. Balançando a cabeça, suspirava com sorriso em seus lábios finos e dentes pequenos que estavam a saborear a simplicidade de um vento fresco e impeliu-se a um abraço. Abraçou uma árvore qualquer como se abraçasse a todas, sentia abraçar a todas através de uma. Entendeu a causa de sua total abominação pelo ódio que antes havia sentido, rejeitava intensamente por não querer dá-lo a ninguém e o anseio por livrar-se daquele ódio fecundou o desejo de entender
Apenas fale parte II Os sussurros que ouvia, sempre a fizeram parronar consigo secretamente por não saber decifrá-los. A construção de um sorriso, embuço, trabalhado ardentemente para si mesma, constante ciência de não mostrar quem era. Um parecer a cercava para proteger a fragilidade da vulnerável alma doce que a trouxe ao mundo. Minha doce alma elã sempre a fingir. Provocativa com olhar de sentimentos profundos. Confissões do espírito aflito. Confissões do pensamento vago. Confissões dos sussurros na floresta que crescia viçosa e indomável dentro da mente ávida. Se cada uma delas à sua frente deliberasse voz, como suportaria? E, frente às enfileiradas e muitas desordenadas, finas e grossas, cores e formas todas distintas, frutos diversos, espinhos ou não, frutos ou não, remédios ou venenos, detrimentos ausentes ali, multidão desejando ser povo. Apenas a floresta. Não satisfeita com pa
Apenas fale parte I Tudo que a cercava tinha peso de alguma história vivida. Ela admirava pequenas cicatrizes nos móveis, cicatrizes nas paredes e no chão. Sentia sempre a sensação de que o passado estava ali, impresso e negava-se a cobrir com tinta, algo que a fazia sentir, qualquer que fosse a história do passado  e suas vozes gritantes nas marcas que via. Na verdade, os pensamentos dela criavam uma imensidão de possibilidades e ela amava ser assim. Parava para ouvir uma imagem falar e sentia. Ela não admitia modernidades como se tivesse nascido no século XVIII. Preferia mobília com rigidez medieval e o encanto da nogueira polida com azeite e cera,  que exibia seus provocantes torneados. A luz do amanhecer que invadia o quarto, revelando seus contrastes a surpreendiam sempre. E numa manhã... Abriu os olhos num demorado despertar e não moveu a cabeça. Sem ninguém ao seu lado, acompanhou com os olhos ainda preguiçosos, o raio de sol que entrou por entre as cortinas que