Sinal de fumaça

             
Uma pequena população ouviu um ruído constante desde que elas começaram a queimar.
Pacientemente, as mensagens sendo enviadas, encheram uma vasta área da atmosfera.
Um sinal de fumaça para quem não sabe ouvir.
Torna-se mais fácil quando pensamos que é apenas estupidez.
Mas tratamos como uma deficiência auditiva
e sinais visíveis foram enviados.
Ás vezes gritamos para que a mensagem seja recebida.
As árvores úmidas, bem próximas umas das outras, parecem um exército.
Apenas finos raios de sol atravessam para dar luz àquela tropa.
Imóveis como muita gente, inofensivas e ocupando um espaço desejado por outros.
Essas não foram plantadas por mãos, foram sementes trazidas em ondas de vento,
em voos de pássaros, em rajadas de tempestades.
Milhares não poderão ver, tornarão os espaços maiores, vazios de verde  e
os passos mais largos ocuparão os territórios dos finos raios.
As úmidas árvores tão ingenuamente imóveis, nem se defendem, apenas respiram.
Darão oxigênio para pensamentos e desejarão ter vozes.
As árvores se defendem sem ter voz, sua voz é o silencio.
Milhares de pessoas jamais conhecerão as palavras das árvores.
Mas que voz a floresta produz?
Que cheiro?
Um ciclo, tudo muda.
Depois da chuva, tudo muda.
Se o cheiro da floresta tivesse cor, que cor seria?
Se tivesse cor aquela névoa linda, o vapor natural onde os finos raios dançam...
Aleatórios eles  fluem entre ramos e dançam sem compromisso ou ordem estabelecida.
Mas as árvores obedecem umas às outras.
As cores, os cheiros, as luzes dos raios de sol fazendo crescer...
Tudo obedece um fim e respeita um início.
A violência natural da floresta é permitir a vida no instinto da caça.
Permite, imóvel. Permite a morte para ser transformada em alimento.
Circulam as feras na noite em busca das presas
que por sua vez também precisam de alimento.
A massa orgânica viva fecunda ao redor.
Uma população de insetos.
Outros desejando o espaço não se contentarão.
E o que diz a voz do ser racional com seus atos?
Exército inútil, sem voz, sem movimento.
Queimaremos até suas sementes.
Os abismos cobertos de florestas respondem com eco e
é preciso ouvir ,reflete o som que entregamos, devolve o que fazemos.
Assim é com tudo.
Elas não estão presas na terra.
Estão vivas na terra.
Não impedem que nada flua.
A água desfila nos dutos subterrâneos e nas raízes a vida se propõe
a estar ali tão simples.
Sem interferência tudo ocorre tão naturalmente.
Sem esforço humano de "construir", a floresta cresce e sobrevive sozinha.
Mantê-la de pé é o maior desafio civilizado.
Deixá-la manter seus ciclos,
não atacá-la nem derrubá-la...
O desafio é não interferir e poupar.
A floresta não se defende,
somente existe e respira.
Há uma vontade avassaladora na árvore
chorar em público e comover a humanidade
dizendo como é estar ali imóvel,
vulnerável e poder ser derrubada ou queimada.
Tratada como oponente ou obstáculo, mas cooperadora da vida.
Muitos chorarão pelo sofrimento de seus pulmões
e desejarão ar puro para seus filhos.
Enquanto isso alguns estúpidos governam como se não
houvesse razão nenhuma para se pensar em árvores.

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