Disfarce

Era uma vez um homem que caminhava muito.
Ele pensava em sua vida e nas coisas que tinha feito.
Muitas coisas ele não acertou, foram erros
e outras ele acertou, foram acertos.
Em cada passo ele tinha bastante coisa pra pensar.
Alguns de seus arrependimentos visitavam seus pensamentos constantemente.
No final do dia os goles o entorpeciam
e aquilo que ele não conseguia apagar ou aceitar o assombrava.
Nem todas as marcas podem ser apagadas.
Algumas marcas trazem beleza e outras não.
Ele desenvolveu habilidade com pessoas pois
o seu trabalho o obrigava a fazer perguntas.
Ás vezes uma pequena pergunta inicia longas conversas
e ele conseguiu formar uma coleção de histórias.
Diariamente tinha que vencer sua jornada de passos.
Solitário nas longas estradas, cada passo o fazia pensar.
Mas algo interessante ele tinha de nobre, ele alegrava as pessoas.
Sua coleção de histórias era repleta de situações engraçadas
e ele tinha um jeito de contá-las que despertava o riso
até no mais sisudo cidadão.
O seu público era simples em sua maioria não douto.
As coisas divinas não o despertavam,
mas bem que isso poderia ser um disfarce irônico.
Ele tinha a qualidade desprezível de mentir,
como uma alegoria para tudo o que dizia
e para tornar engraçado o seu falar.
Mentia de forma tão habilidosa que parecia um artista
com sua aquarela a dar cor e alegria.
Era um disfarce próprio, meio cínico e provocativo.
Nos dias atuais, estaria em alta nas redes sociais como irônico e sarcástico.
Fazia piada de tudo, até da própria morte e parecia meio curioso quanto a isso.
Essa personalidade fora construída
nos anos e anos de caminhada
pelas centenas de ruas de sua ilha e fora dela.
Camuflar suas reações internas parecia-lhe mais conveniente.
AS resoluções e perdões parciais e eludidos
terminavam sempre com uns goles a mais.
No fim não encontrava mesmo o perdão para dar
mas absolvia-se alegremente com uma piada.
Até o próximo despertar de consciência onde seus erros o visitavam
nas palavras de quem ele não queria ouvir.
Agora que ele se foi é bem fácil de observar.
Observar e lembrar as vezes em que a verdade
era tão forte e dolorida e fazia chorar
e a mentira tão colorida e agradável que fazia sorrir.
Tão difícil como encontrar a saída de um labirinto...
Enfrentar e suportar a verdade de que se pode facilmente destruir pessoas sem matá-las.
E quando a lucidez o fazia lembrar, retornava sua maior dor mental.
Os seus ombros não suportavam tanto peso invisível,
então ele trabalhava até cansar seus braços.

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