O voo

Basta olhar nos olhos deles: nítidos e aguçados.
Os olhos dos pássaros são tão diferentes!
Quem os vê no começo da vida, nem admite tamanha aptidão.
Na verdade o início é de estremecer.
O desejo do alto até parece velado na realidade despida de apresto. 
Pode dar medo de ver a verdade no agora,
mas sempre tem alguém que já passou por isso.
É a jornada do crescimento.
Esperando o tal crescimento, tinha na essência individual um
clamor por revelar-se com audácia e mostrar-se aos céus.
O desejo de voar germina ao observar o voo.
O desejo de um voo aleatório,
sem um ponto de chegada e nenhum destino especial.
Um sonho começou a pulsar e passou pelo pensamento em segundos,
quando olhou atento, em alguns instantes foi tão real
e tomado pelo fascínio, sentiu-se tão capaz...
Presenciou seu futuro através daquela envergadura imponente.
Motivador, eletrizante e o esperar parecia insano...
Quero  voar agora!
Estridente, gritava sem os fonemas humanos:
Me deixe viver meu sonho!
A verdade capaz, a verdade impulso, a verdade fulgente.
Viver como uma sombra não combinava muito com toda aquela energia,
mas estava na sombra, precisava dela e não sobreviveria sem ela.
O tempo mostra sinais de liberdade e declara o poder e o consentimento.
Os sutis sinais do tempo:
Como a fumaça fininha depois da faísca 
que começa um grande incêndio ou a brisa leve e tão inocente
no início de um devastador furacão.
Quando sopra o vento é um alerta para observar.
Prever um forte vento desperta o vigilante.
Ele sabe o que fazer.
Tem que amarrar bem as coisas, pois, o vento
leva o que está solto ou aquilo que foi esquecido do lado de fora.
Não se protege nulidade.
A proteção torna capaz o futuro tão planejado.
É a preservação da vida.
A atitude firme de proteger revela
o horrendo e flácido que foi guardado no interior do ninho.
O palpitar do pequeno coração externava o desejo mordaz
de ser o próprio vento.
Soprar tudo que puder para longe ou deixar-se ir para longe, bem longe.
Mas quem protege do vento já conhece a força de segurar o que tem valor.
Passou por ventos ainda maiores e não teme por si próprio, mas por quem protege.
Observa para deixar ir quando estiver pronto.
Observa a plumagem virar pena e admira o crescer das asas.
Quem protege um pássaro vê o voo crescendo junto com ele.
O voo sempre esteve dentro dele, ainda que suas penas  tenham demorado a crescer.
O voo sempre esteve dentro dele, ainda que um dia tenha recebido comida na boca.
O voo sempre esteve dentro dele, ainda que a palha
do ninho tenha sido desconfortável ou o pior lugar do mundo.
O voo sempre esteve dentro dele, mesmo quando se mostrou tão agressivo
e não queria ser segurado e mantido à salvo no meio da tempestade.
Embaixo de outras asas o vento não era tão forte!
Mas o tempo mostra sinais de liberdade e declara o poder e o consentimento.
Quando pronto, o pássaro suporta o empurrão.
E voa.
É belo, sublime!
Tem gratidão.
Não se pode impedir seu voo, mas alguém pode arrancar sua penas, cruelmente.
Arrancar as penas do pássaro tira dele o destino que ele escolheu e 
o voo que ele sempre desejou, mas o tempo...
O tempo declara o poder e o consentimento.
As penas crescem e o voo está dentro dele.
Os sentimentos mudam depois do empurrão.
Começa a sentir a oposição dos ventos tornando possível voos mais altos,
fortalecendo suas asas.
Começa a reconhecer os colecionadores de penas e perceber o quão belas
são as suas asas abertas no céu.
Começa a reconhecer seus predadores
e desenvolve seus sentidos tornando-se hábil caçador.
Tem gratidão.
Se não tivesse ninguém para empurrar, empurraria a si mesmo?
Mas uma coisa é certa: o voo sempre esteve dentro dele.




             

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