Terror noturno


Contanto que o sono lhe chegasse aos olhos,
não fazia muita diferença onde descansava seus ouvidos.
Somente desejava muito um profundo e relaxante,
com total ausência dos gritos pavorosos
que retorciam todo seu corpo durante os terríveis pesadelos.
Mas conhecer o sono de alguém é muito íntimo.
Ninguém se torna mais vulnerável!
O sono profundo traz a maior das fragilidades
e se pode transpor mundos ocultos.
Fantasias, medos e segredos, prisões e mistérios.
Numa faísca cerebral o retorno à lucidez.
Acordado, pensa no agora.
Não deseja os delírios sem controle.
Não pode prescindir controlar tudo.
Entra em desespero lembrando segundos
que não tinham o formato exato do tempo acordado.
E acordado, luta contra seu estado psíquico anterior.
Descreve para si mesmo e tenta encontrar semelhanças.
Como dar palavras e sentimentos reais ao irreal?
Sentimentos que chegava a viver novamente e tenso,
exercitava acalmá-los, pois foram literalmente trazidos à tona,
num despertar momentaneamente agonizante.
Pesadelo de uma violenta tempestade cerebral, com
tantos impulsos nervosos que seu corpo descontrolado
fazendo sons e movimentos extenuantes,
assombravam quem estivesse acordado, assistindo.
Tinha ele em suas mãos um leme  desconectado,
preso nas mãos e solto de tudo.
Um barco à deriva em meio à tempestade violenta e cruel.
Sentia o pânico de ser jogado na fúria de um mar que não aceita vida humana.
Seus pés se esforçavam para permanecer apoiados ao chão,
de madeira, liso, encharcado, escorregadio.
As ondas violentas batiam cada vez mais forte.
O corpo tremendo e gelado, sendo jogado para as laterais da
embarcação como se fosse um boneco sem vida.
Tragédia de uma vida que não consegue largar o leme e tentar...
Pelo menos tentar se segurar ao mastro
ou qualquer coisa firme que flutuando lhe daria alguma esperança,
que, mesmo sendo mínima, poderia salvá-lo.
Mas não!
Seu leme é sua crença ou descrença!
Jogado ao mar e agarrado em seu precioso leme, seu controle:
seu jeito de fazer e de pensar.
Proprietário de suas razões: -Eu não mudarei!
Tudo em minha volta tem aceitar que possuo meu leme.
Eu posso.
Eu controlo.
Mas não!
Então...
Não respira...
Não pode...
Se respirar seus pulmões se enchem de água e a morte iminente.
A mente presa ao leme acelera o tempo e pensa no fim.
Ninguém quer esse fim.
A agonia da morte o transporta imediatamente para o querer ser salvo.
Por alguém mais forte,
alguém que não solte,
alguém que puxe,
alguém que se importe.
Então...
Eis o despertar!
Suor fluindo por todos os poros de seu corpo
e as cobertas enroladas o prendiam como o abraço furioso das ondas.
Respirando ofegante recebe o alívio de estar vivo.
Permanece imóvel até recobrar totalmente os sentidos reais.
Seu coração acelerado vai aos poucos estabilizando seus batimentos.
Cansado, respira profunda e demoradamente.
Olhando o balançar lento da cortina, ele relaxa todos os músculos.
Um sopro suave embala o silêncio da madrugada
que o traz de volta à dormência.
Ignorando todas as suas sensações e receios, ele dorme,
novamente, para na manhã seguinte,
levantar-se, preso em seu leme e suas angústias de alma.
Mas o seu espírito está sempre tentando avisar.







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