Desequilíbrio


Tu, ruivo de aquecer, vem com a falta de tuas rodas
e sem a tua velocidade também.
Teus cabelos da nuca, grudados  pelo suor,
bem falaram da tua longa caminhada no sol das nove.
Mostravas contrariedade segurando o capacete.
Caminhar quando poderias na liberdade das tuas duas rodas,
ultrapassar a barreira das tuas sensações loucas, era desconsolo.
Teu sorriso explica tudo quando diz: eu já vou e... vai.
Acelerando vai.
Ele anunciava o desgosto para si com passos tão largos...
Um deslize e tudo estava perdido.
Sempre forçado a aprender que a prudencia não é opcional
quando se trata de aventura em velocidade.
Como pássaros presos dentro do peito,
a vontade de viver a liberdade plena,
sempre faz com que empurre o pedal abrindo sua gaiola
e o ronco vem a seguir dando a chance de mais uma revoada.
Não faz força pra respirar porque nem lembra que respira,
apenas vive encurtando as distancias e os tempos.
Quando chega é como pouso.
A liberdade  que desfruta parando no mirante para olhar a paisagem,
é um alimento  e fica cítrico quando as ondas batem com força nas pedras.
Não se pode reclamar dos sentidos e nem dos sabores do verão.
Nas longas ruas retas quando as árvores passam tão rápido e
o dia vai se despedindo com carinho de céu vermelho,
não pensa em velocidade mas no dia que terminou.
Depois da curva, uma fração de segundo, um descontrole, desequilíbrio...
Solta ou segura.
E deixa...
É como segurar um copo , pouco antes de chegar ao chão.
Firmou suas mãos como garras e conseguiu.
Ufff!...
Parou.
Em segundos de pânico não havia beleza nenhuma na mente.
Nos segundos seguintes, sentia tanta gratidão, que tudo à sua volta lhe
parecia digno, por maior que fosse a simplicidade ao redor.
Respirar é bom demais, estar vivo, estar inteiro, ter mais tempo para amar alguém!
Pode comprar outro pneu, mas quem poderia comprar de volta sua vida?
Já não mostrava contrariedade segurando o capacete e tampouco empurrando a moto.
Começando a noite, chega em casa sem pressa de viver...
Mas vivo!
Respira!
Então respire!








Comentários

  1. Vou lendo e vivendo a história, me transporto pra lá como se fosse verdade.
    Uma história que numca vivi.

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