Almas verdes

Até podia ver a ponte quando olhava.
Tinha que subir naquela pedra enorme
e pra facilitar a vida,  aqueles baraços
que cresciam exibidos, bem naquela moita que se formou,
nem se sabe quando, bem em cima da pedra.
Era um abraço da terra lá por cima
que começou a criar toda vida que passava por ali.
Era tão pouca terra e abrigava tanta vida...
Um pé de espinheiro, umas porções de gravatá
e um tipo de baraço forte pra chuchu.
Praticamente um quipá vegetal.
Estranho né?
A pedra não era não, mas a vista que se tinha
lá de cima, era sim a favorita de muita gente.
Mas não dava pra entender aquilo acontecendo.
Tanto cuidado de uns e tanto desprezo de outros.
Olhar sem ter nenhum poder de transformar.
E tudo sendo transformado sem quase ninguém olhar.
Nessas horas de irritação se pensa em solução
Se não puder trazer todos os olhos para a imagem,
então pode levar a imagem para todos os olhos.
Pelo menos os olhos que estiverem abertos
e dispostos a ver a verdade.
Quando todas as fotografias do desmatamento
foram espalhadas pela pequena cidade,
os olhos se abriram junto com as bocas
para protestar e agitar suas verdes
bandeiras de indignação.
As almas verdes conduziram
o protesto pacificamente,
e muita coisa pôde ser mudada por causa
das imagens reveladoras.
-Aquela mulher é mesmo louca!
 Diziam os que em perda choravam as pitangas.
Mas ao longo de sua vida caminhando pelas matas
em plena comutação de vida,
ela se acostumou a construir resposta boa,
mesmo para assuntos circunstanciais.
-Até gostaria de ser mais lúcida,
mas aí eu ia ter que começar a vender meu tempo por salário.
Depois pensarei nisso.
Por enquanto vou apreciar a vista.

Comentários

  1. Depois pensarei nisso. Vou continuar a apreciar. Lindoooooo. Lição valorosa pra nós. Apreciar sem questionar a natureza

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