Galho quebrado

GALHO QUEBRADO

Quando o galho quebrou, quase não deu tempo de segurar em outro.
Os pés escolheram mau aquele galho podre, mas as mãos escolheram melhor.
É que as mãos estão mais perto dos olhos e os olhos estão bem perto do pensamento.
Na verdade foi um aperto, estar abraçado na árvore mais alta.
Agora as canelas estavam ardendo e não dava pra fazer nenhum movimento enfeitado de herói.
Mas era pra ser na hora certa. Que pena!
Ele escutou o barulho e não deu pra ver.
Seu plano era vê-la de longe...
No alto bem alto, dava pra ver depois do barranco.
Ele queria ver se ela estava de tranças, se sorria...
Ele queria ver o sol fazendo aqueles cabelos pretos brilharem e sua pele...
Ah! Tão linda pele preta, linda, a mais bela que seus olhos já viram...
Então ele fechou os olhos e pensou nela o tempo todo.
Se o galho não tivesse quebrado ele saberia que ela não entrou no ônibus.
Mas então, ele não sabia.
Seus pensamentos já planejavam para o dia seguinte.
E quando finalmente conseguiu que seus pés chegassem ao chão,
ele se olhou enchendo as bochechas de ar.
Ardeu coisa demais mesmo, quando lavou os lanhos no riacho.
Só tinha que dar um jeito de ter uma sorte bem boa,
pra mãe não ver a roupa rasgada.
Eita guri apaixonado esse. Não tirava a guria da cabeça.
Já ia saindo pro lavor quando a mãe gritou pra voltar.
Tinha que levar umas folhas de chá pra filha da Joana.
Acordou amuada tadinha, nem foi pra escola, disse a mãe.
Faceiro que dava gosto, rindo sozinho,
atravessou o mato e agradeceu o galho quebrado, pensando sozinho:
Quem sabe se de perto posso saber que cheiro tem
aqueles cabelos pretos tão, tão lindos. Os mais, mais lindos.
Será que ela está de tranças?





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