Barulho do mar


Olhar  o mar sem pressa.
Fechar os os olhos e ouvir o barulho.
O mar tem uma cadência, um ritmo...
É grave quando quebra a onda e
um rufar contínuo que termina no chiado da espuma.
Mesmo quando se ouve a onda quebrar,
o rufar permanece e o chiado também.
É um som sobre outro sempre no ritmo.
Quando focamos nas espumas o chiado fica mais alto,
mais importante e nossos olhos estão olhando
aquelas milhares de bolhas estourando.
Estamos prestando atenção nas bolhas
e pensamos que o som delas é mais alto.
Então temos o controle do volume do mar?
Temos o controle da intensidade do som das águas?
Nós nos focamos e nos concentramos e então tudo muda num instante.
É como o tempo, nunca pára.
Por mais brando que seja o movimento do mar, ele nunca pára.
O tempo também, ele não pára de passar por nós e em nós.
Dentro do mar ou fora dele, observamos, sentimos e o mar não pára.
Algumas estações trazem ventos, cores e luzes diferentes.
As tardes de primavera que parecem eternas
em minutos de um sol que esquenta bem devagar,
 tem a luz perfeita para as mais belas fotos.
Cena perfeita para meditar em tantas coisas!
Querer voltar naquele minuto que gostou de viver nas
lembranças e conversas com risos.
É como tentar puxar de volta uma linha com aqueles momentos que vivemos
e a risada acaba quando chega o fim da lembrança.
Certamente vivemos muitas outras coisas naquele dia,
mas temos uma cena recortada e colada na nossa memória.
No fim daquela memória a linha termina.
A memória é fascinante.
Tempo vivido que volta e trás sensações.
Alguns fatos da vida que até não foram tão bons
podem ser transformados em piada.
Alguns realmente trágicos,
guardamos numa caixa difícil de abrir.
Não é útil lamentar pelo peixe que escapa,
não é útil lamentar pelo tempo perdido.
Oh! Esteve tão perto, mas fugiu e outra pessoa vai pegar esse peixe,
vai pegar esse minuto e viver.
Mas guardamos tudo em nossos preciosos arquivos e sabemos que
as pessoas estão por aí vivendo as sensações que outros viveram no passado.
Outras pessoas se atrevem a viver o que muitos deixaram passar por não ter coragem.
A máquina humana não mudou.
Talvez com uma nova fantasia,
mas as sensações são as mesmas.
Muito novo para quem nunca viveu
e muito velho para quem já passou por aquilo.
As memórias como caixas de jóias,
guardam preciosidades e pérolas de minutos inesquecíveis
formam  os colares dos anos vividos.
Dia após dia muitos planos são traçados.
O mar da vida nos espera.
Muita vontade espetada no anzol!
Mesmo sem a certeza do êxito,
existe a certeza de que sempre há uma grande realização pronta pra ser vivida
e hoje a vida é preciosa e todos estão formando sua caixa de jóias.
Tudo bem se as vezes só pensamos em nossa caixa de iscas.
As iscas são as mesmas e ás vezes um pouco mais intensas,
com mais urgência e ansiedade.
Em dias de tempestade o que vale é o agora,
enxergamos a tormenta bem na nossa frente
e nos tornamos verdadeiros egoístas
em situações de nuvens negras que tornam os dias nada belos..
Relâmpagos e trovões...
As estatísticas nos rodeiam e também observamos.
O quê está sendo fisgado nos dias de hoje?
O quê todos estão pegando?
Sempre há o risco de cair no emaranhado de linhas e anzóis,
ganância e competição e bem pouca compaixão.
De fato ninguém sabe quanta linha tem no carretel e
nem quanto tempo tem disponível para viver.
Mas ondas mudam a praia o tempo todo e
o tempo modifica as pessoas.
O mar pode trazer coisas ruins depois das tempestades.
Coisas que ninguém sabia que estavam nele ás vezes chegam até a praia.
Tempestades são reveladoras.
Existem coisas que as pessoas não querem que sejam encontradas
e então jogam no lugar mais profundo.
Muito lixo não deveria estar no mar, eles contaminam, são tóxicos.
Mas essas coisas estão lá e ninguém vê, mas quem jogou sabe que está lá.
E como o mar, às vezes engolimos muitas coisas como o mar engole o que nele cai.
Não podemos negar o fato de que o tempo nos modifica e
ás vezes também despejamos nossas palavras como o mar
e rejeitamos sentimentos tóxicos que estiveram tanto tempo
escondidos na profundeza das memórias secretas.
Muitas dores e temores vão e vem como as ondas.
E continuamos enfrentando diariamente o mar da vida.
O bem que há em nós é suficiente para querer ser ainda melhor,
mesmo quando estamos diante do cenário devastador, pós tempestade.
Sentir coisas que não gostamos não pode nos fazer desistir de querer ser melhor.
Existem sentimentos que querem nos dominar por completo,
mas estar a sós e concentrar-se na paz faz toda a tensão recuar.
Concentrar-se no chiado das bolhas...
As memórias que nos fazem rir são um remédio
e o nascer do sol inaugura uma nova caixa,
novinha para as pérolas de hoje.
O melhor de tudo é ter alguém que nos ajude a varrer a nossa praia.
Estamos todos aprendendo a viver.


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